UM CONVITE PARA JANTAR
Hà um ano atrás, eu fiquei doente e tive que passar alguns dias no hospital.
Pela manhã e pela tarde, meus amigos me visitavam,
mas à noite, não era permitida a entrada de não pacientes na ala que eu estava internada.
Não era fácil de preencher o tempo
estando praticamente atada aqule lugar.
Gente doente pra tudo que era lado,
o único lugar que tinha um pouco de vida
era onde se doava sangue.
Sei disso por que precisei receber sangue.
Passei grande parte de minha tarde, esperando que alguém aparecesse,
mas incrivélmente, ningém naquela tarde passou por lá.
A moça que estava na recepção, estava nervosa
como se sua vida dependesse do sangue a ser doado.
Quando já era quase noite, voltei para o meu quarto.
Mais tarde naquela noite, acordei com o barulho de rodas de carrinho
passando pelo grande corredor que cortava todo o hospital.
Levantei e abri a porta do quarto.
No fim do corredor,
uma enfermeira vinha empurrando um carrinho
de levar comida no quarto dos pacientes.
Mas naquele horário, ninguém trabalhava na ala em que eu estava.
Eu fiquei dentro do quarto, com a cabeça do lado de fora
para ver oque a enfermeira ia fazer.
Derepente, outra porta é aberta
e por essa porta passa a moça da recepção
que vai ao encontro da enfermeira.
Pude ouvir uma breve conversa entre as duas.
A enfermeira levantou o pano que usava para cobrir o carrinho
mostrando oque havia para a moça.
Ela expressou desapontamento com oque tinha visto.
As duas andaram em direção ao meu quarto.
Eu me escondi ainda mais, para não ser vista.
O barulho que o carrinho fazia,
ficava cada vez mais alto o quanto mais elas se aproximavam.
Segundos depois de passarem em frente ao quarto em que eu estava,
não aguentei de curiosidade
e coloquei o meu corpo completamente para fora para olhar.
Um rastro de sangue rasgava todo o corredor.
Meus olhos se abriram mais para ver se realmente era verdade.
Na escuridão da noite,
as duas moças entraram numa sala.
Longe doque minha visão podia alcançar,
agora elas estavam.
Entrei novamente no quarto,
me sentei na cama, ainda pasma com oque tinha presenciado.
Fiquei imóvel por quase uma hora,
imaginando se fazia alguma coisa
ou se guardava essa história só para mim.
Num impulso,
me levantei, fui em direção à porta do quarto
e observei se havia alguém no corredor.
O corredor estava vazio.
Coloquei meu corpo completamente para fora do quarto,
e fui em direção ao cômodo em que as moças estavam.
A porta do cômodo estava trancada,
forcei a fechadura até consegui abri-la.
No quarto não havia ninguém,
só o carrinho que elas levaram por todo o corredor.
Encostei perto do carrinho,
que estava coberto com um lençol branco com marcas de sangue.
Minhas mãos estavam trêmulas,
mas mesmo assim recostei-as encima do leçol,
e num impulso o puxei.
Por baixo daquele pano,
a visão que eu tive me aterrorisou.
Três cabeças,
duas de adulto e um que se assemelhava a de uma criança,
pernas, braços, troncos
membros de vários corpos
só que completamente desconexos.
Quis vomitar ao ver todos aqueles corpos esquartejados,
arrumados em várias bandejas
como se fossem ser servidos em um banquete macabro.
Tudo em minha frente parecia girar,
perguntas sem respostas ecoavam em meu cérebro.
Enquanto estava sem chão,
alguém havia entrado no quarto.
Rapidamente olhei para trás.
A unica coisa que tive tempo de ver,
foi a enfermeira com os braços levantados
segurando no alto uma enorme e assustadora marreta,
com esse instrumento de tortura,
ela golpeou minha cabeça,
pude ouvir o som de meu crânio se partindo em pedacinhos.
No mesmo instante fui levada ao chão,
com os olhos entre abertos,
pude ver a outra mulher entrar no quarto.
Ela olhou para o chão e me viu quase que desmaiada.
Tomou nervasamente a marreta das mãos da outra,
e com toda sua força,
me goupeou,
até eu ficar toda mutilada.
A minha pele estava grudada no piso do hospital,
a face, como em um quebra-cabeça,
partida em mil pedaços.
Meu cérebro estava espalhado por todo o quarto,
e meu sangue,
desenhava as paredes
como em uma pintura abstrata.
Talvez se eu não fosse tão curiosa,
ainda estivesse inteira,
e não seria mas só uma cabeça no banquete de alguém.
IARA BLUES ROSE